Carta para não mandar ou Cantiga interrompida

solo de dança
criação e interpretação: Diane Ichimaru


espetáculo premiado pela
CARAVANA FUNARTE PETROBRAS de Circulação NACIONAL

“E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.”


Livro do Desassossego
Fernando Pessoa

A inquietude do ser é a matéria prima deste solo de dança.
Obra aberta - inacabada e inacabável, habita o terreno fértil de pensamento desordenado, fragmentário e lacunar - de quarto desarrumado.

O movimento é impregnado pela tensão de frase incompleta, pelo caos desassossegado do pensamento.
Fragmentos que não compõem um verdadeiro todo provocam dúvida e hesitação - o corpo se contradiz; entrega-se intensamente ao desatino, em redemoinho atemporal e prolixo de destroços da memória.

A ação discorre sem se completar, como os ruídos que sobem da rua – passos, fiapos de conversas, gente passando, crianças brincando....

Diálogo íntimo e sigiloso compartilha o momento do encontro de si mesmo com o público.
Desfruta as sensações do encontro único e fugaz; o instante.

“As respostas somem de dentro da minha boca, alfinetes engolidos antes de espetar o tecido que seria vestido – furta cor, cor roubada num lampejo, presa no tecido do vestido. Verde. Fúcsia. Magenta. Cobalto. Sulferino.
Fósforo riscado, memória apagada.
Volto logo. Espere na sombra.
Batata brotada verde limbenta – cheiro de terra apodrecida. Esquecida no fundo da cesta no canto da cozinha. Seu broto insiste em rasgar a casca, pústula de planta vindoura.”

(...)

“Estranha e sigilosa melodia me estende os braços.
Dança sincopada de corpos fonéticos se põe a colorir as prateleiras da despensa; frases incompletas e absortas se recostam no sofá.
Receitas culinárias recitadas em versos largos fermentam entre as pernas da mesa da cozinha.
Mal a colher escapa da mão, embrulho com papel e cadarço os cacos da xícara pela metade de café.”


trechos do texto do espetáculo de autoria de Diane Ichimaru


Ficha Técnica Criação e interpretação:
Diane Ichimaru

Plano de iluminação, operação de luz e som:
Marcelo Rodrigues

Texto, criação e confecção de figurino:
Diane Ichimaru
Trilha musical:
Mormorio - A. Carlos Gomes e variação para Gnossienne n°3 - Erik Satie
arranjo e execução para piano realizados especialmente para o espetáculo por Rafael dos Santos
Improviso para piano: Rafael dos Santos
duração:
aproximadamente 45 minutos

faixa etária recomendada:
público jovem, adulto, terceira idade

fotos: Ricardo de Oliveira


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